terça-feira, 20 de julho de 2010

Preparação Mitsubishi Lancer Evo X Avant Slot

A sucessão na gama de rali da Avant Slot demorou a chegar ao mercado. Mas quando surgiram, as novidades tiveram impacto imediato nas provas de rali slot. Primeiro o Subaru Impreza e pouco depois o Mitsubishi Lancer, lançados com um curto intervalo de tempo, contribuíram para mais colorido nos parques fechados, quebrando uma certa monotonia de Peugeots 207.

Fig. 1: O Mitsubishi Lancer Evo X da Avant Slot.

O primeiro lançamento para rali slot do fabricante Avant Slot , o Peugeot 207 IRC, foi um sucesso total, dominado as diversas classes em que foi admitido. Uma carroçaria que replica muito bem o modelo original, desenhada com espessura variável para minimizar peso, mantendo em simultâneo uma resistência correcta, era complementada com um chassis multi ajustável, motor em posição angular e suporte de patilhão basculante.


A preparação que agora apresento foi a que utilizei na última prova do Campeonato de Rali Inter-Clubes CSB-GT Team. Foi para mim o baptismo em prova do minimodelo. A minha 1ª tentativa de participação tinha sido na penúltima prova do campeonato, mas resultou em desastre. No pequeno período de apresentação ao troço que o regulamento desportivo de ralis permite, não evitei uma saída de consequências graves: a máquina ficou paralisada, com o motor a não dar sinal de vida…

Fig. 2: O Mitsu nos treinos de apresentação, ainda antes do acidente…


Sem tempo (e sobretudo paciência) para averiguar as causas da “greve” do Mitsu, acabei por me apresentar ao parque fechado com o mais batido e testado 207, também da Avant Slot.

Fig. 3: ... e o Peugeot 207 com que acabei por participar!

O interregno entre as provas deu-me tempo não só para averiguar o que se tinha sucedido na prova anterior, mas também para estudar melhor o Mitsu, aperfeiçoar a preparação e testar as diversas soluções nos troços de rali permanentes do CSB.


Fig. 4: O Mitsu na bancada de estudo…

A base de trabalho é excelente. O chassis tem muitas possibilidades de ajuste, permite regular tanto a altura do eixo dianteiro como traseiro e limitar a basculação do suporte do patilhão. Não é possível regular a distância entre eixos, mas a verdade é que este chassis não pretende ser “universal”. Os chassis vendidos em separado incluem um suporte de patilhão mais longo que no entanto não é compatível com nenhum dos três modelos de carroçaria disponíveis pelo fabricante.

Fig. 5: a fixação da bandeja de lexan.

Por falar em carroçarias, são um autêntico tratado de projecto de peças de plástico. A espessura das mesmas é variável, o que permite um peso muito contido. Não há muito a fazer neste departamento,. Mesmo que o regulamento permitisse aligeirar a carroçaria, não haveria por onde o fazer. Já está nos limites! O único a fazer é mesmo trocar a bandeja dos bonecos por uma bandeja de lexan. Neste caso, utilizei uma bandeja da Avant Slot, mas para o 207. À data os modelos específicos para o Mitsubishi ainda não estavam disponíveis.

Fig. 6: os retrovisores com suportes inquebráveis…

As outras alterações à carroçaria foram a modificação do suporte dos retrovisores e a substituição da antena por uma flexível.

Fig. 7: e a antena inquebrável.

Um outro aspecto marcante da carroçaria, mas que limita um pouco o potencial do minimodelo, é a sua largura. Nas rodas traseiras, a largura efectiva é de 60,5mm e mesmo as rodas originais sobressaem um pouco. Mais, a cava da roda é relativamente justa à própria roda. Para se evitarem interferências entre rodas e carroçaria, em consequência da basculação, as rodas devem ficar dentro da carroçaria. Ou então, terão que ser rectificadas para um diâmetro pequeno. Ou combinar ambas as soluções.

Fig. 8: largura da carroçaria no eixo traseiro – 60,5mm.


As jantes mais estreitas que encontrei foram da Scaleauto. Escolhi as Monza 15,8x8mm (SC-4031D). Para além de terem um traço agradável (e mais furos que um queijo suíço), têm uma largura de cubo de apenas 8,95mm. Isto é quase menos 1mm que qualquer modelo Sloting Plus, que têm 9,90mm, ou que as Slot.it 15,8x8mm de cubo estreito, (ref. SI-PA24), que têm 9,75mm de largura.

Fig. 9: várias opções de jante - a Scaleauto é nitidamente a mais estreita.

Com estas jantes montadas é possível manter as rodas dentro da carroçaria, o que permite que a carroçaria bascule sem bater nas rodas.

Fig. 10: a roda traseira totalmente dentro da carroçaria (sim, é possível!)


Para o chassis, os eixos são os de 50mm da Slot.it, e os batentes dos eixos são os originais. Os parafusos superiores de regulação da altura dos eixos, tanto dianteiros como traseiros, foram substituídos por uns de nylon. Um parafuso de nylon é também utilizado no batente do suporte de patilhão basculante, com a cabeça do parafuso virado para baixo. Assim posso aceder a esta regulação desde fora do minimodelo, sem necessidade de desmontar a carroçaria.

Nas rodas da frente montei uns pneus de baixo perfil raiados da Sloting Plus. Ainda no eixo dianteiro, os casquilhos não tem escolha. Os específicos da Avant Slot são os único que servem. A polia dianteira é de 6,5mm de diâmetro, em alumínio ,da MSC Competicion (ref. MSC-2313).

Utilizei um patilhão da Scaleauto de 7mm de profundidade (ref. SC-1608), levemente desbastado no leme, tanto em altura, para não bater no fundo das calhas Ninco que é costume utilizar nos ralis de asfalto do CSB, mas sobretudo na frente do leme, suavizei a sua característica forma angular para evitar prisões com as ligações das placas da pista. As palhetas são da MB Slot (ref. MB-19080), simultaneamente finas e resistentas (para uma prova de asfalto, pelo menos…). Os cabos eléctricos são os de silicone vermelhos da Scaleauto.

Fig. 11: preparação na frente do chassis...


Na traseira utilizei a polia original e os casquilhos RRSS Victor’s da Sloting Plus (ref. SLPL1001). Estes casquilhos são espectaculares. O seu desenho permite compensar os pequenos desalinhamentos que às vezes surgem nos suportes de eixo e asseguram um funcionamento suave, suave….

Fig. 12: ...e preparação na traseira do chassis.


Decidi manter o motor de origem. As características anunciadas pela Avant Slot para este Republic são impressionantes para rali: 25.000rpm@12V e 7gr. de efeito magnético! Depois de algumas pesquisas de preparações para este modelo decidi arriscar um pouco e experimentar uma relação final muito curta: 8/30. O pinhão de nylon é da Sigma (ref. SG-8501) e a coroa é uma Slot.it (ref. SI-GA30). Este conjunto impressiona pela suavidade do engreno. Mas é importante assegurar o correcto posicionamento da coroa, o que é fácil de conseguir com umas anilhar entre o casquilho e a coroa. Para finalizar a transmissão, utilizo a correia original. Desde que convenientemente mantida, garante tracção mais que adequada ao eixo da frente.


Os pneus traseiros são uns PKS Slick raiados (ref. PKS-PLS003) rectificados para um diâmetro de roda de 17,5mm. Porquê esta medida? Por duas razões:

1) é a medida de uns pneus Spirit baixos montados na mesma jante; assim posso ter diferentes conjuntos de rodas prontas, todas com o mesmo diâmetro e quando estiver em testes para escolha de borrachas é só trocar rodas e não preciso mexer na afinação do chassis…
ii) têm uma folga razoável com a carroçaria, permitindo uma basculação sem complicação…
Fig. 13: roda traseira com pneu PKS e 17,5mm de diâmetro.


A traseira foi regulada para uma altura de aproximadamente 1,5mm. Numa pista Ninco montada em base perfeitamente plana, é possível regular esta altura para valores próximos a 1mm…

Fig. 14: distância à placa na traseira do chassis.

…mas as pistas das provas de rali do CSB raramente são planas… muitos desníveis, ondulações, bossas e mesmo saltos, oferecem provas espectaculares para ver e gatilhar, mas obrigam que o chassis esteja um pouco elevado da pista para que o motor não raspe constantemente, provocando perdas de aderência e saídas de traseira ou falhas na travagem ou mesmo bloqueio do minimodelo por curto circuito do motor com a calha…

Pela mesma razão, a frente deve estar um pouco alta. Tenho por costume nivelar o chassis, de modo a ficar horizontal. Mas se a pista for muito irregular levanto a frente para permitir ultrapassar os obstáculos sem que o chassis raspe na pista. O suporte de patilhão é regulado de modo que as rodas da frente apenas toquem a pista e o eixo dianteiro com uma folga vertical muito ligeira, menos de 1mm.

Fig. 15: nivelamento do chassis.

Para finalizar a preparação, falta a ligação da carroçaria ao chassis, que é assegurada por parafusos Slot.it métricos M2x5,3mm de cabeça grande (ref. SI-CH54).

Fig. 16: montagem concluída e pronto a fechar!



E como se porta esta máquina nos troços?

Fig. 17: está na hora de testar!!!


Posso dizer que muito bem… permitiu-me o 2º lugar da classe WRC. Nada mau!

O que mais impressiona, desde a partida, é a aceleração e a travagem. Fulgurante!!! Claro, com uma relação 8/30 nem era de esperar outra coisa. Mesmo regulando o troço a 15V, é impressionante como o carro acelera assim que se espreme o gatilho e como estaca quando se trava. A 17V a aceleração faz a frente levantar e a travagem é de tal ordem que, para quem não está habituado (e eu não estava!) as paradinhas são frequentes… requer um pouco de habituação, mas é uma gatilhagem entusiasmante! Este motor não se nota forte nas médias rotações (ou eu é que não notei as médias rotações com a relação curtíssima...). Se o troço tiver muitas secções de rectas curtas e curvas encadeadas, em que o controlo de aceleração a meio regime é importante, talvez haja motores mais fáceis de explorar. Mas seguramente não serão tão divertidos!


O chassis enfrenta muito bem curvas e ganchos em apoio. Mesmo uma travagem retardada em excesso é assimilada e o minimodelo derrapa controladamente. Mas uma gatilhada fora do sítio ou mesmo um simples acelerar ligeiro provocam o desequilíbrio do minimodelo e a saída de frente é inevitável. Sem dúvida consequência do motor muito rotativo e da relação curta que escolhi. Assim mesmo, nesta configuração, o melhor é enfrentar os encadeamentos com velocidade constante, sem "bombar" o gatilho.

Fig. 18: em encadeamentos…

O comportamento do chassis é muito semelhante ao do já conhecido 207. Talvez permita um escorregar da traseira mais fácil de controlar. Ou talvez seja apenas impressão e se note mais o escorregar porque a volumetria da carroçaria é diferente… mas na realidade, o escorregar da traseira só acontece se provocado. Se não abusarmos na travagem os pneus PKS e o poder magnético do motor, à altura que se encontra da pista,  impedem grandes derrapagens.


Em troços com rectas médias e curvas curtas ou ganchos, esta configuração motor / relação de transmissão é tremendamente eficaz. Uma travagem tardia provoca uma ligeira deriva da traseira para desenhar a curva que a frente aguenta perfeitamente e, assim que o minimodelo estiver alinhado com a recta, uma gatilhada vigorosa e rápida catapulta o Mitsu para a próxima curva. A polia dianteira ligeiramente mais pequena que a original também ajuda, com o eixo dianteiro a puxar rapidamente o minimodelo para fora da curva.

Fig. 19: em zonas de rectas intermédias, travagem-gancho-aceleração.

Onde me parece que o Mitsu tem real vantagem face ao 207 é nas entradas em subida de ganchos. A distância do patilhão ao extremo frontal da carroçaria (para choques) é semelhante nos dois modelos, mas o Mitsu tem os cantos da carroçaria mais recuados. Por esse facto entre com mais à vontade nestes obstáculos, onde o Peugeot por vezes perde a frente, não por problema de chassis, mas porque a carroçaria toca na pista, levantando a frente e fazendo o patilhão sair da calha.

Fig. 20: rampa na entrada de um gancho.

Nos cruzamentos de calhas o carro é impressionante. As aproximações a curvas fechadas com obstáculos deste género à entrada podem ser feitas como se o obstáculo não existisse. Pode entrar-se a fundo (ou quase…) que não descarrila. Apenas é preciso ganhar confiança, porque o chassis aguenta!

Fig. 21: em cruzamento de calhas.

Um obstáculo característico que costuma provocar problemas de saídas dos minimodelos, mesmo em rectas, são as bossas, quando formam junções de placas de pista em ângulo. Como referi acima, é importante que haja alguma altura do chassis à pista para que estes obstáculos possam ser ultrapassados sem problemas. E claro, o suporte de patilhão basculante também ajuda…

Fig. 22: junção de placas em ângulo.


O Mitsubishi da Avant Slot é muito equilibrado. O chassis multi ajustável permite sempre encontrar uma afinação com a qual podemos gatilhar confortavelmente e com confiança. E as sessões de teste acabam por demorar mais tempo do que o previsto… não porque seja difícil encontrar a afinação, mas porque se perde noção do passar das horas.

O Mitsubishi, como qualquer outro modelo da Avant Slot, é uma boa razão para se iniciar no rali slot. É uma maquete muito aceitável em termos de fidelidade e detalhe de reprodução, mas a grande mais valia é mesmo o seu desempenho. Muito bom!

Fig. 23: ...e um 2º lugar em WRC!!!
(a imagem está tremida devido ao meu entusiasmo com a classificação obtida!)


Boas gatilhadas!

MPQ

10 comentários:

A. Maia disse...

Muito bem Miguel!
Um bom trabalho, sem dúvida, e uma grande trabalheira para o fazer, certamente!!!
Parabéns.
A. Maia

Miguel Queirós disse...

Boas.

Obrigado Maia.

Um abraço.

Augusto Amorim disse...

Excelente artigo Miguel.
Mas fiquei sem perceber....se tu é que eres um excelente piloto ou se excelente preparador....rsrsrs

Brincadeira....
Excelente...Artigo e classificação.
Parabéns.

Abraço
Augusto

Morgado disse...

Boa Mestre!

Grande lição que aqui fica!

Abraço e aguardo pela próxima.

Miguel Queirós disse...

Boas novamente.

Augusto, sem querer parecer imodesto, devo ser bom preparador, porque bons resultados em prova com o dedo boto que tenho, só mesmo com uma grande máquina! lol!!!

Morgado, espero ter tempo para tornar isto um hábito...

Obrigado a ambos.

Boas gatilhadas.

Emídio Rocha Peixoto disse...

Parabéns pelo óptimo artigo caro amigo MPQ!
O Mitsubishi estava muito bem preparado e foi bem pilotado, razão pela qual permitiu uma óptima classificação final no último Rally.
Pessoalmente tenho uma relação algo difícil com o Mitsubishi da Avant Slot, continuando a preferir de longe o Peugeot... enfim, acho que o Mitsubishi tem menos plástico na concepção, razão pela qual, em treinos, bati com o mesmo num obstáculo que arrancou o pára-choques traseiro levando a uma obrigatória paragem que, num Rally a sério, levaria a uma desistência.
Um abraço slotista,
Emídio.

Miguel Queirós disse...

Boas novamante.

Obrigado pelo comentário, Emídio.
Bem vindo de volta ao blogue e espero que também às corridas.

Como deves ter tido oportunidade de ler nas reportagens das provas do troféu Reynard, estão a ser muito competitivas, mas sentimos a falta do combativo "factor X"...lol!!!

Grande abraço e boas gatilhadas!

Augusto Amorim disse...

Miguel,

Para qualquer piloto obter um bom resultado precisa de um carro bem preparado. E, se não tiverem dedo, não conseguem esses resultados.

Mudando de assunto, existe alguma relação entre o factor X (Emídio) e o nome do carro que esmiuçaste, Mitsu Lancer Evo X..!?

Abraço

Mota disse...

Excelente trabalho Miguel.
Queremos mais....

Um abraço

Miguel Queirós disse...

Boas outra vez.

Augusto, nunca tinha pensado nisso... mas pelo domínio nos ralis bem que o Emídio merecia uma série especial dedicada... será que a Avant Slot estaria pelos ajustes? Mitsubishi Evo Factor X???

Mota, obrigado. Assim espero, se tiver disponibilidade de tempo e matéria.

Grande abraço e boas gatilhadas.